quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O LIVRO ESCURO (I) - Mar Becker

isadora duncan aparece em meu espelho
no lugar de mim
então me olha
e mostra
a língua. demoro a perceber que é uma língua
em forma de ponteiro de relógio
(o que falta em meu próprio relógio, na parede da cama)
*
vai até a cozinha
eu sigo
o gás atravessa a mangueira discreta
e pacientemente, como um segredo entre gerações.
lembro que esse é o gás com que sylvia plath se suicidou
e que sylvia plath é a poeta que cita a echarpe
de isadora duncan
num poema que se chama
"40 graus de febre"
*
o silvo: a válvula-vulva da panela de pressão
girando
*
o ponteiro nenhum do relógio, girando
o corpo e o sangue
a roda do conversível

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